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Os Estados Unidos, Egito e Catar disseram na sexta-feira que as negociações de cessar fogo destinadas a acabar com o 💲 conflito betesporte afiliado Gaza continuariam semana passada no Cairo medida os mediadores correram para fazer progressos rumo à trégua.

O anúncio 💲 veio depois que altos funcionários americanos, israelenses e egípcios encerraram dois dias de negociações betesporte afiliado Doha ( Catar), enquanto mediadores 💲 tentam superar os desacordos remanescentes entre Israel ou Hamas. Autoridades dos EUA esperam um movimento nas conversas para impedir uma 💲 retaliação amplamente antecipada liderada pelo Irã ao assassinato do líder sênior no Hamás com o Hezbollah ambos apoiados por 💲 Teerão

Durante as negociações, os Estados Unidos disseram que apresentaram uma proposta - apoiada pelo Egito e Qatar.

que estreita as lacunas 💲 entre Israel e Hamas betesporte afiliado alcançar um cessar-fogo. Detalhes da proposta não foram imediatamente conhecidos, Em uma declaração conjunta : 💲 todos os três governos caracterizaram a reunião como "séria", construtivamente conduzida numa atmosfera positiva."

"Esta proposta baseia-se betesporte afiliado áreas de acordo 💲 durante a semana passada e preenche as lacunas remanescentes na maneira que permite uma implementação rápida do negócio", disseram os 💲 três países.

Autoridades seniores se reunirão novamente antes do final da próxima semana no Cairo na esperança de chegar a um 💲 acordo com base nos termos estabelecidos betesporte afiliado Qatar, disse o comunicado. Enquanto isso funcionários mais baixos continuariam martelando detalhes 💲 técnicos sobre como seria implementada uma proposta para cessar-fogo”, acrescentaram os autores

Não houve comentários imediatos de oficiais israelenses ou do 💲 Hamas sobre se eles participarão das negociações no Cairo.

Autoridades do Hamas, que acusaram o governo israelense de negociar com má 💲 fé e não participaram diretamente das negociações betesporte afiliado Doha sinalizaram disposição para considerar novas propostas dos israelenses.

As negociações assumiram um 💲 significado elevado à medida que a região se prepara para uma retaliação esperada contra Israel do Irã e Hezbollah após 💲 os recentes assassinatos de Ismail Haniyeh, o líder político da Hamas betesporte afiliado Teerão e Fuad Shukr num subúrbio Beirute. Os 💲 Estados Unidos implantaram aeronaves adicionais

Navios de guerra para a região, e despachou um submarino com mísseis guiado ndia-Israel.

Um acordo de 💲 cessar-fogo para Gaza, segundo diplomatas dos EUA e do Oriente Médio pode ajudar a persuadir o Irã betesporte afiliado controlarbetesporte afiliado💲 resposta.

A pressão internacional tem aumentado há meses para algum tipo de acordo acabar com o sofrimento betesporte afiliado Gaza e permitir 💲 a libertação dos reféns. O Ministério da Saúde israelense informou na quinta-feira que os números das mortes palestinas no conflito 💲 ultrapassaram 40.000 pessoas, mas não distinguem entre combatentes ou civis; No mesmo dia as forças armadas israelenses disseram ter matado 💲 mais do 17 mil durante toda esta guerra bélica:

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    Este artigo destaca uma bifurcação no movimento renovador da Educação Física: a corrente mais conhecida questiona a abordagem tradicional no ♣ ensino dos esportes quanto à função social da Educação/EF e a reprodução social.

    Mas é a corrente ancorada nas teorias da ♣ aprendizagem (construtivista e desenvolvimentista) que alcança desdobramentos importantes ao incrementar as possibilidades dos métodos de ensino dos Jogos Esportivos Coletivos ♣ (JECs), alegando a insuficiência do ensino centrado na técnica, descolado da essência tática desses jogos.

    Nesse sentido, salienta a convergência dessas ♣ duas correntes: a busca da autonomia do sujeito quanto a betesporte afiliado própria prática esportiva.

    Mostra que o avanço na questão da ♣ reprodução social só pode ser dado pelos conceitos que transformaram os modelos de ensino dos JECs.

    Conclui que a solução se ♣ basearia nos modelos de ensino que possibilitaram retomar o sentido dos jogos mostrando o entrelaçamento dos JECs na trama social, ♣ permitindo equivaler diversas formas de movimento.

    Este artículo destaca una bifurcación en el movimiento de renovación de la Educación Física (EF): ♣ la principal corriente académica cuestiona el enfoque tradicional en la enseñanza de los deportes con respecto a la función social ♣ de la EF y la reproducción social.

    Sin embargo, es la corriente anclada en las teorías del aprendizaje (constructivista y desarrollista) ♣ la que logra desdoblamientos importantes al incrementar las posibilidades de los métodos de enseñanza de los Juegos Deportivos Colectivos (JDC's), ♣ alegando la insuficiencia de la enseñanza centrada en la técnica, apartada de la esencia táctica de esos juegos.

    Así, resalta la ♣ convergencia entre estas dos corrientes: la búsqueda de la autonomía del sujeto en a su propia práctica deportiva.

    Muestra que el ♣ avance en la cuestión de la reproducción social solo puede darse a través de los conceptos que transformaron los modelos ♣ de enseñanza de los JDC's.

    Concluye que la solución se basaría en los modelos de enseñanza que permitieron restablecer el sentido ♣ de los juegos, mostrando el entrelazamiento de los JDC's en el tejido social y permitiendo la equivalencia de diversas formas ♣ de movimiento.

    1 INTRODUÇÃO

    Mesquita, Pereira e Graça (2009MESQUITA, Isabel Maria; PEREIRA, Felismina; GRAÇA, Amândio Braga.

    Modelos de ensino dos jogos desportivos: investigação ♣ e ilações para a prática.Motriz, v.15, n.4, p.944-954, out./dez.2009., p.

    945) relatam um ponto de inflexão quanto ao ensino, aprendizagem e ♣ treinamento (E-A-T) dos Esportes Coletivos, entendem ter acontecido um "[...

    ] movimento reformador do ensino dos jogos iniciado nos finais dos ♣ anos 60 e anos 70 e redobrado nos anos 90 do século passado".

    Relatam, no contexto europeu, o surgimento de novos ♣ modelos de ensino do que passam a chamar de Jogos Esportivos Coletivos (JEC's), inspirados em novas teorias da aprendizagem, cognitivistas ♣ e construtivistas.

    Esses estudos influenciaram decisivamente o subcampo da Pedagogia do Esporte (PE) no Brasil.Galatti et al.

    (2019GALATTI, Larissa Rafaela et al.

    Pedagogia ♣ do esporte: publicações em periódicos científicos brasileiros de 2010 a 2015.

    Conexões: Educação Física, Esporte e Saúde, v.17, e019008, p.1-18, 2019.

    ) ♣ mostram que apenas 2% das publicações em periódicos de Educação Física (119 de 2738 artigos) tinham como tema a "Pedagogia ♣ do Esporte" entre 2010 e 2015.

    Dentro desse espectro, o que é mais significativo para o assunto que estamos aqui tratando ♣ é que 32 dos 40 artigos encontrados tratam apenas do tema da "Metodologia de Ensino", sendo esse o grande tema ♣ da área da PE.

    Tanto Galatti et al.

    (2019) como Rufino e Darido (2011RUFINO, Luiz Gustavo Bonatto; DARIDO, Suraya Cristina.

    A produção científica ♣ em pedagogia do esporte: análise de alguns periódicos nacionais.Conexões, v.9, n.2, p.130-152, maio/ago.2011.

    ) abordam temáticas (em PE) sobre as quais ♣ seria necessário o aprofundamento: a) estudos sobre esporte escolar; b) estudos sobre a prática dos esportes com grupos especiais; c) ♣ estudos sobre organização e sistematização de conteúdo, entre outros.

    Se a "metodologia de ensino" é o grande mote das pesquisas, é ♣ possível o entendimento de que o campo avançou bastante no intento de possibilitar a participação dos novos no sentido de ♣ auxiliar a encontrar uma melhor forma de se comportar no jogo, o que é um avanço do ponto de vista ♣ pedagógico.

    Estes estudos colocam a necessidade de superar o que identificam como "abordagem tradicional".

    Dentro da abordagem tradicional, entendia-se que a técnica ♣ era o elemento principal da ação dentro dos Esportes Coletivos.

    A aposta na depuração da técnica individual tinha como premissa que ♣ a soma dos desempenhos significaria um melhor desempenho coletivo.

    Essa análise mecanicista das ações dentro do contexto esportivo é criticada em ♣ face da essência tática dos JEC's:

    A competência do jogador não decorre, portanto, de um entendimento mecânico que se restringe ao ♣ saber como executar determinadas técnicas.

    No sentido de selecionar e executar a resposta motora mais adequada ao contexto que a reclamou, ♣ o jogador deve prioritariamente saber o que fazer e quando fazer (GARGANTA, 1998GARGANTA, Júlio Manuel.

    O Ensino dos Jogos Desportivos Colectivos.

    Perspectivas ♣ e Tendências.Movimento, v.4, n.8, p.19-27, 1998., p.23).

    A aprendizagem da dimensão tática melhora o desempenho dentro do jogo.

    Em outras palavras, é ♣ um saber que se refere ainda à lógica interna do jogo, e não à lógica externa.

    A lógica externa é abordada ♣ pela PE de forma adicional (como na pedagogia desenvolvimentista, que trata a formação como multidimensional).

    A renovação do ensino trata-se aqui, ♣ portanto, de jogar melhor (também nessa perspectiva).

    No campo da EF brasileira destaca-se também um movimento renovador com outros contornos históricos.

    No ♣ entanto, há um ponto comum: a crítica à abordagem mecanicista do movimento humano e o surgimento de uma abordagem desenvolvimentista, ♣ assim como acabamos de caracterizar quanto aos estudos da PE.

    A educação física, como participante do sistema universitário brasileiro, acaba por ♣ incorporar as práticas científicas típicas desse meio.[...

    ] Um grupo desses docentes optou por buscar os cursos de pós-graduação em educação ♣ no Brasil.

    Principalmente com base nessa influência, o campo da EF passa a incorporar as discussões pedagógicas nas décadas de 1970 ♣ e 1980, muito influenciadas pelas ciências humanas, principalmente a sociologia e a filosofia da educação de orientação marxista.

    O eixo central ♣ da crítica que se fez ao paradigma da aptidão física e esportiva foi dado pela análise da função social da ♣ educação, e da EF em particular, como elementos constituintes de uma sociedade capitalista marcada pela dominação e pelas diferenças (injustas) ♣ de classe (BRACHT, 1999aBRACHT, Valter.

    A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física.Cadernos Cedes, v.XIX, n.48, p.69-88, ago.1999a., p.78, grifo nosso).

    Bracht ♣ (1999aBRACHT, Valter.

    A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física.Cadernos Cedes, v.XIX, n.48, p.69-88, ago.1999a., p.

    77) entende que há um duplo ♣ viés no movimento renovador de 1980.

    Em um primeiro momento "[...

    ] vamos assistir à entrada em cena também de outra perspectiva ♣ que é aquela que se baseia nos estudos do desenvolvimento humano (desenvolvimento motor e aprendizagem motora)".

    Mas logo passamos a discutir ♣ a função social da EF e qual o papel que esta pode desempenhar se não quer contribuir à lógica da ♣ reprodução social.

    É necessário mais uma vez ressaltar que, mesmo com este duplo viés, ambas as perspectivas criticam a abordagem mecanicista ♣ do movimento humano.

    Ao que parece, e é isso que queremos investigar neste momento, é que duas ou três décadas depois ♣ acabam por encontrar um ponto de convergência.

    Nesse sentido, nosso objetivo neste artigo é mostrar a convergência entre os subcampos da ♣ Educação Física Escolar e da Pedagogia do Esporte no Brasil, expondo os avanços desta última quanto à inserção dos significados ♣ culturais do esporte na prática pedagógica, que deveriam ser complementados com a inserção no campo da Sociologia do Esporte.

    Reverdito e ♣ Scaglia (2009REVERDITO, Riller Silva; SCAGLIA, Alcides José.

    Pedagogia do Esporte: jogos coletivos de invasão.

    São Paulo: Phorte, 2009., p.

    16) dizem partir do ♣ pressuposto de que "[...

    ] o esporte por si, não tem significado, este está na sociedade que o transforma".

    Nesse sentido, só ♣ o esporte não contribuiria para o propósito educacional, mas o significado atribuído a ele.

    Os autores perguntam: "[...

    ] que praticantes se ♣ formarão por meio da prática esportiva? Para que tipo de sociedade se formarão?".

    Entendem ainda que essas e outras questões "[...

    ] ♣ deverão ser questionadas e respondidas pela pedagogia do esporte, para que possamos efetivamente concretizar uma prática educativa no esporte" (REVERDITO; ♣ SCAGLIA, 2009REVERDITO, Riller Silva; SCAGLIA, Alcides José.

    Pedagogia do Esporte: jogos coletivos de invasão.

    São Paulo: Phorte, 2009., p.17).

    Apontam para a EF ♣ escolar como possibilidade de concretização dessas expectativas, o que compartilhamos ser ainda uma lacuna nos estudos da PE.

    Os autores também ♣ questionam se as "[...

    ] situações que se apresentam no alto rendimento esportivo [...

    ] a 'espetacularização esportiva'" (REVERDITO; SCAGLIA, 2009, p.

    127) ♣ são mesmo educativas ou se a estrutura reducionista e seletista acaba prevalecendo (como era a crítica no bojo do movimento ♣ renovador); perguntam ainda se a PE está se ocupando dessas questões.

    Trata-se de um tema comum na constituição das teorias pedagógicas ♣ que surgiram após o movimento renovador (SOARES, 2012SOARES, Carmen Lúcia et al.

    Metodologia do ensino da educação física.

    São Paulo: Cortez, 2012.

    ; ♣ KUNZ, 2004KUNZ, Elenor.

    Transformação didático-pedagógica do esporte.6.ed.

    Ijuí, RS: UNIJUÍ, 2004.

    ; BRACHT, 1999aBRACHT, Valter.

    A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física.Cadernos Cedes, ♣ v.XIX, n.48, p.69-88, ago.1999a.).

    Reverdito e Scaglia (2009) entendem que a pedagogia deve ser inovadora e buscar a autonomia do indivíduo, ♣ com a ressignificação da prática esportiva:[...

    ] o fenômeno esporte é um patrimônio da humanidade e não deverá ser compreendido apenas ♣ em uma perspectiva vertical - da resultante -, mas, também, da horizontal, ou seja, do processo [...

    ] isso se torna ♣ possível quando, por meio da pedagogia, transcendemos os aspectos metódicos, tornando possível 'pedagogizar o fenômeno esporte'" (REVERDITO; SCAGLIA, 2009REVERDITO, Riller ♣ Silva; SCAGLIA, Alcides José.

    Pedagogia do Esporte: jogos coletivos de invasão.

    São Paulo: Phorte, 2009., p.130, grifo nosso).

    Aqui parece que as duas ♣ vertentes (desenvolvimentista e crítica-progressista) surgidas da crítica à abordagem mecanicista do movimento humano voltam a se encontrar, na transcendência dos ♣ aspectos metódicos, mas, paradoxalmente, nas possibilidades abertas pelas transformações metodológicas alcançadas pelas perspectivas desenvolvimentista e construtivista.

    Essa busca da autonomia do ♣ sujeito quanto a betesporte afiliado própria prática esportiva é o que justifica o conceito de cultura corporal de movimento, tido como ♣ o objeto de estudo e de ensino da EF escolar.

    No verbete "cultura corporal de movimento" do Dicionário Crítico da Educação ♣ Física (PICH, 2005PICH, Santiago.

    Verbete "Cultura Corporal de Movimento".

    In: GONZÁLEZ, Fernando Jaime; FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo.

    Dicionário crítico de Educação Física.Ijuí: UNIJUÍ, 2005.p.108-111.

    ), ♣ ressalta-se também que se trata do "conceito de maior consenso na área", que redefiniu o objeto da EF.

    Destaca a ruptura ♣ com a "visão biologicista-mecanicista do corpo e movimento" que era hegemônica na EF e o fato de o conceito de ♣ "cultura corporal de movimento" vir a representar a "dimensão histórico-social e cultural do corpo e movimento" (PICH, 2005, p.109).

    É uma ♣ ideia que nutre-se do contexto teórico das ciências sociais e humanas das décadas 1960 e 1970, quando o corpo passa ♣ a ser entendido como "lócus de inserção do homem na cultura".

    No entanto, Betti (2007BETTI, Mauro.

    Educação física e cultura corporal de ♣ movimento: uma perspectiva fenomenológica e semiótica.

    Revista da Educação Física UEM, v.18, n.2, p.207-217, 2007.

    ) destaca um dilema culturalista, um problema ♣ que consiste em tomar o corpo como produto da linguagem, e a cultura como causa das manifestações corporais.

    O autor caracteriza, ♣ portanto, as práticas corporais como códigos institucionalizados e, uma vez não refletida a capacidade corporal de produção de linguagem, instaura-se ♣ o referido dilema.

    Por isso, advoga que o papel da EF "[...

    ] seria auxiliar na mediação simbólica desse saber orgânico para ♣ a consciência do sujeito que se movimenta, por intermédio da língua e outros signos não-verbais, levando-o à autonomia no usufruto ♣ da cultura corporal de movimento" (BETTI, 2007BETTI, Mauro.

    Educação física e cultura corporal de movimento: uma perspectiva fenomenológica e semiótica.

    Revista da ♣ Educação Física UEM, v.18, n.2, p.207-217, 2007., p.208).

    Nesse sentido, apesar de não se encontrar na PE uma exegese do potencial ♣ linguístico do corpo no registro sócio-filosófico, há (definitivamente) uma reorganização da mediação simbólica pelo caráter lúdico atribuído aos JEC's (jogo ♣ como função significante).

    2 DO AVANÇO NA PE: RECOLOCAR EM JOGO O SENTIDO HISTÓRICO DA AÇÃO

    Na mediação dos saberes corporais produzidos ♣ nos JEC's, o subcampo da PE avançou em três conceitos que se inter-relacionam e possibilitam uma probabilidade de resolver a ♣ questão da função social da Educação/EF e da reprodução social, preservando a função social que caracteriza a história da EF: ♣ a intervenção sobre o corpo em movimento.

    Em resumo: como podemos conceber a autonomia do sujeito como um processo que não ♣ seja relativo apenas a ordem da conscientização, mas também relativo ao seu próprio estatuto corporal? A possibilidade da autonomia mora ♣ na transformação da própria prática esportiva, nas maneiras como ela pode acolher os recém-chegados.

    O primeiro conceito importante neste sentido - ♣ até em ordem cronológica - é o "Transfert", de Bayer (1994BAYER, Claude.

    O Ensino dos Desportos Coletivos.

    Lisboa: Dinalivros, 1994.).

    Trata-se de um ♣ conceito que aparece em vários estudos no subcampo da PE e fora dele (GALATTI; PAES; DARIDO, 2010GALATTI, Larissa Rafaela; PAES, ♣ Roberto Rodrigues; DARIDO, Suraya Cristina.

    Pedagogia do Esporte: livro didático aplicado aos Jogos Esportivos Coletivos.Motriz, v.6, n.3, p.751-761, jul./set.2010.

    ; DAOLIO, 2002DAOLIO, ♣ Jocimar.

    Jogos esportivos coletivos: Dos princípios operacionais aos gestos técnicos- Modelo pendular a partir das idéias de Claude Bayer.

    Revista Brasileira de ♣ Ciência e Movimento, v.10, n.4, p.99-104, out.2002.

    ; LEONARDO; SCAGLIA; REVERDITO, 2009LEONARDO, Lucas; SCAGLIA, Alcides José; REVERDITO, Riller Silva.

    O ensino dos ♣ esportes coletivos: metodologia pautada na família dos jogos.Motriz, v.15, n.2, p.236-246, abr./jun.2009.

    ; GONZÁLEZ; BRACHT, 2012GONZÁLEZ, Fernando Jaime; BRACHT, Valter.

    Metodologia do ♣ ensino dos esportes coletivos.

    Vitória: UFES, Núcleo de Educação Aberta e a Distância, 2012.).

    O conceito se refere à semelhança entre os ♣ esportes coletivos quanto à estrutura de jogo e aos princípios operacionais.

    As primeiras lógicas identificadas por Bayer (1994BAYER, Claude.

    O Ensino dos ♣ Desportos Coletivos.

    Lisboa: Dinalivros, 1994.

    ) que permitem o "transfert" são relativas à invasão territorial, de ataque e de defesa, e desvelam ♣ o parentesco entre os JEC's.

    Esse princípio é decisivo porque destaca e coloca como elemento central da aprendizagem um sentido que ♣ já estava perdido, o sentido da invasão territorial.

    Toda técnica corporal fica, assim, submetida a um cenário cognitivo que excede as ♣ ações motoras, metalinguístico.

    Leonardo, Scaglia e Reverdito (2009LEONARDO, Lucas; SCAGLIA, Alcides José; REVERDITO, Riller Silva.

    O ensino dos esportes coletivos: metodologia pautada ♣ na família dos jogos.Motriz, v.15, n.2, p.236-246, abr./jun.2009.

    ) trazem a teoria dos sistemas de Edgar Morin para inteligir também a ♣ relação dos jogos com outros jogos, betesporte afiliado autonomia relativa.

    O jogo seria uma suspensão da realidade mas também um sistema complexo: ♣ em um sistema complexo os antagonismos não são excludentes, somente na interação entre eles que as características emergentes aparecem.

    Sendo assim, ♣ o jogo é um sistema complexo que se relaciona com outros sistemas (outros jogos e também com o meio social).

    Daí ♣ vem o modelo pendular (de ensino dos JEC's) de Jocimar Daolio, onde as especificidades técnicas dos esportes coletivos vão para ♣ o final da unidade de ensino, dando prioridade para as lógicas internas comuns de Claude Bayer.

    Enquanto sistema, o jogo se ♣ assemelha a outros sistemas e também se diferencia, em direção à betesporte afiliado identidade particular: daí betesporte afiliado semelhança com a sociedade ♣ e seu processo de diferenciação, a elucidação de seu "caldo cultural".

    Outra lógica derivativa desse mesmo conceito, que aí remetemos ao ♣ subcampo da PE no Brasil, é a lógica da "família de jogos" (SCAGLIA, 2003SCAGLIA, Alcides José.

    O Futebol e os Jogos/brincadeiras ♣ de Bola com os Pés: todos semelhantes, todos diferentes.2003.164 f.

    Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas.

    Faculdade de Educação Física, Campinas, ♣ 2003.).

    Uma família de jogos caracteriza-se por conglomerado de jogos que possuem semelhanças e diferenças entre si, "características essas, interdependentes, que ♣ simultaneamente se complementam e autoafirmam, possibilitando a inclusão das unidades numa totalidade maior" (SCAGLIA, 2003SCAGLIA, Alcides José.

    O Futebol e os ♣ Jogos/brincadeiras de Bola com os Pés: todos semelhantes, todos diferentes.2003.164 f.

    Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Campinas.

    Faculdade de Educação Física, ♣ Campinas, 2003., p.

    105 apudLEONARDO; SCAGLIA; REVERDITO, 2009LEONARDO, Lucas; SCAGLIA, Alcides José; REVERDITO, Riller Silva.

    O ensino dos esportes coletivos: metodologia pautada ♣ na família dos jogos.Motriz, v.15, n.2, p.236-246, abr./jun.2009., p.240).

    Todo jogo possui uma estrutura interna (regras, jogadores e estruturas motrizes) e ♣ estrutura externa, "[...

    ] que interagem simultaneamente durante toda a realização do jogo.

    E, como resultado dessas interações, os jogos promovem emergências, ♣ que se caracterizam como aprendizagens (LEONARDO; SCAGLIA; REVERDITO, 2009LEONARDO, Lucas; SCAGLIA, Alcides José; REVERDITO, Riller Silva.

    O ensino dos esportes coletivos: ♣ metodologia pautada na família dos jogos.Motriz, v.15, n.2, p.236-246, abr./jun.2009., p.240, grifo nosso).

    O gol improvável de Juliano Belletti em uma ♣ final de Champions League adquire essa conotação:

    Pode ser que até o dia 17 de Maio de 2006 o futebol fosse ♣ um jogo setorizado, onde importava mais que cada setor (defesa, meio-campo e ataque) cumprisse suas funções e aguardasse o seu ♣ momento de agir; em que importava que cada jogador fosse o mais eficiente possível no controle dos fundamentos do jogo ♣ [...

    ] Pode ser que a setorização se traduzisse naqueles esquemas táticos, o mais popular entre eles, o 4-4-2, que traduziam ♣ a segurança de se defender com 4 ou com 5 jogadores [...

    ] setorização que, diga-se de passagem, é um conceito ♣ administrativo.[...] Em Paris, F.C.

    Barcelona e Arsenal empatavam pela final da Champions League daquele ano.

    No final do jogo, Belletti estica uma ♣ bola para Larsson na lateral e três jogadores do Arsenal fecham na marcação do sueco.

    Isso deixa o espaço que Belletti ♣ ocupa com um movimento em diagonal, recebe a bola de Larsson e finaliza fazendo o gol do título.

    Na lembrança de ♣ Belletti, ele entende que esse espaço foi criado porque não se concebia que um lateral fizesse uma movimentação deste tipo, ♣ ele entende que um lateral europeu não faria, não era um hábito.

    O que é inédito é a marca que se ♣ produz a partir deste ato.

    Só no futebol setorizado três defensores acompanhariam Larsson e deixariam Belletti sem marcação entrar e fazer ♣ o gol.

    Hoje, alguém fecharia a linha de quatro defensores, ou o volante, ou o lateral.

    O arcabouço conceitual do jogo hoje ♣ é outro.

    Pode ser que depois daquele gesto individual o jogo de futebol tenha sofrido uma inflexão involuntária, daí a betesporte afiliado ♣ característica de palco.

    No mínimo, aquele gesto expos as amarras que estruturavam o jogo até ali.

    O próprio Belletti, depois que passa ♣ a bola para Larsson, antes de fazer o tal movimento, hesita e até ameaça minimamente voltar para a defesa e ♣ depois volta a avançar; o que mostra a fragilidade de betesporte afiliado criação, decisão.

    O que importa é que, uma vez realizado, ♣ surge como o ainda-não-ser que revela o que é e, ainda, a possibilidade de ser (GHIDETTI, 2018GHIDETTI, Filipe Ferreira.

    "Pensar com ♣ os ouvidos": o problema da relação corpo-conhecimento a partir da Teoria Estética de Theodor W.Adorno.2018.261 f.

    Tese (Doutorado em Educação) - ♣ Universidade Federal de Santa Catarina.

    Florianópolis, 2018., p.256).

    Existem importantes estudos que buscam desvelar a relação entre futebol e cultura, entre lógica ♣ interna e lógica externa.

    Wisnik (2008WISNIK, José Miguel.

    Veneno Remédio: o futebol e o Brasil.

    São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

    ) explora os ♣ vínculos entre a forma de jogar poética (elíptica) do futebol brasileiro com a história da nação.

    Wilson (2016WILSON, Jonathan.

    A pirâmide invertida: ♣ a história da tática no futebol.

    Campinas,SP: Editora Grande Área, 2016.

    ) mostra as evoluções dos sistemas táticos no futebol ao longo ♣ da história e em diferentes regiões do mundo.

    Wilson (2016) mostra como a ideia do "jeito certo de jogar" às vezes ♣ trava a evolução do jogo de futebol.

    Os episódios do futebol por vezes se combinam em crenças que estabelecem mudanças no ♣ status quo sobre o jeito de jogar.

    A história se sedimenta porque faz a união entre uma forma de jogar e ♣ a expectativa do público ("cair no gosto do público local"), ou o inverso disso.

    O trabalho do referido autor tem como ♣ tema a evolução dos sistemas táticos e explora a relação entre esse processo e as culturas locais onde esses sistemas ♣ se desenvolvem.

    Quando um sistema é adotado como legítimo em uma determinada cultura, ou melhor, o único legítimo, e é desenvolvido ♣ a partir dessa crença, ele acaba se esgotando.

    O que significa que passa a não ser mais efetivo no jogo de ♣ futebol.

    A endogenia acaba por inviabilizar o legitimado sistema.

    Essas ideias mostram um aspecto das práticas corporais, quando elas são as maneiras ♣ que se dão para dar vazão as coisas tal qual elas são, resposta; o aspecto moral mostra o que elas ♣ são quando são significativas, conformam o homem em si mesmo e daí não interessam para a EF, porque rompem com ♣ a possibilidade da formação, a possibilidade de outra sociedade.

    A invenção da função do líbero no futebol italiano por Arrigo Sacchi ♣ dá disto testemunho: "Foi o sucesso do Milan na Europa, nos anos 1960, que introduziu o líbero como o padrão ♣ italiano.

    Um quarto de século depois, foi o sucesso do Milan na Europa que acabou com ele" (WILSON, 2016WILSON, Jonathan.

    A pirâmide ♣ invertida: a história da tática no futebol.

    Campinas,SP: Editora Grande Área, 2016., p.333).

    Sacchi explica que teve que romper com a característica ♣ de ênfase defensiva do futebol italiano, que vinha da história da Itália, que sempre foram invadidos por todo mundo, "ideia ♣ reforçada pela derrota esmagadora na Segunda Guerra mundial".

    Sacchi relata uma espécie de choque cultural entre o futebol de betesporte afiliado equipe ♣ e o imaginário italiano sobre o futebol.

    É essa interação entre o sistema social e o jogo como sistema de autonomia ♣ relativa que não foi demasiadamente explorada no subcampo da PE.

    No entanto, o avanço significativo quanto aos processos de E-A-T nos ♣ JEC's abriram uma via interessante de enfrentamento da questão.

    Reverdito e Scaglia (2009REVERDITO, Riller Silva; SCAGLIA, Alcides José.

    Pedagogia do Esporte: jogos ♣ coletivos de invasão.

    São Paulo: Phorte, 2009., p.

    141), autores atuantes na PE, caracterizam também este problema, veem o jogo e a ♣ cultura como manifestações sociais que "foram tecidas juntas", mas que a PE encontra problemas em traduzir esse processo em conhecimento ♣ - o problema é que a lógica externa é tratada como uma lógica adicional à lógica interna.Veem o:

    Esporte/jogos coletivo como ♣ um fenômeno social criado pelo homem, que se desenvolveu simultaneamente ao seu processo civilizador.

    Portanto, não temos duas manifestações paradoxais ou ♣ excludentes, mas uma única manifestação sociocultural, promovida em um ambiente socializado e permitido pela representação do jogo.

    O problema surge na ♣ pedagogia do esporte quando esta se limita a compreender apenas uma manifestação, descaracterizando a outra, ou seja, somos capazes de ♣ verificar em grande parte as implicações existentes nos jogos esportivos coletivos de ordem técnica, tática e estratégica existentes nas mais ♣ diversas modalidades esportivas, mas nos esquecemos que eles somente são permitidos por terem em seu contexto (ambiente) uma manifestação de ♣ jogo jogado (REVERDITO; SCAGLIA, 2009REVERDITO, Riller Silva; SCAGLIA, Alcides José.

    Pedagogia do Esporte: jogos coletivos de invasão.

    São Paulo: Phorte, 2009., p.142).

    Nesse ♣ sentido, entendemos que jogo e cultura não "foram" tecidos juntos mas que o jogo continua permitindo a irrupção de emergências ♣ justamente por estar imerso na cultura.

    Ou seja, continuam sendo tecidos juntos.

    Esse vínculo com a cultura que é necessário explorar de ♣ forma mais sistematizada, lembrando sempre que o que caracteriza a EF é a intervenção pedagógica sobre o corpo em movimento ♣ (ou seja, trata-se de um saber que deve culminar em um saber fazer e não somente em um saber conceitual).

    Falamos ♣ aqui da existência de fronteiras da cultura que é onde se colocam justamente os jogos enquanto sistemas complexos.

    Esses jogos servem ♣ como palcos de onde surgem as "emergências".

    Logo, a busca para solucionar problemas no jogo dependerá das regras que regem o ♣ jogo, das condições externas (ambiente físico e cultural, dentre outras condições ambientais que envolvem o jogo, por exemplo) onde este ♣ se realiza, do grau de envolvimento e engajamento do jogador - que se lança no jogo se valendo de seus ♣ esquemas motrizes anteriores.

    A solução do jogo nascerá no bojo dessas interações, à medida que no jogo a desordem desencadeada, vai ♣ se ajustando e criando uma nova ordem, que por betesporte afiliado vez provoca recursivamente a desordem.

    Destarte, emergem das unidades complexas constantes ♣ soluções.

    E essas soluções (emergências do sistema) trazem duas implicações [...

    ], que evidenciam as tendências integrativas e auto-afirmativas (SCAGLIA, 2017SCAGLIA, Alcides ♣ José.

    Pedagogia do jogo: o processo organizacional dos jogos esportivos coletivos enquanto modelo metodológico para o ensino.

    Revista Portuguesa de Ciências do ♣ Desporto, v.17, p.27-38, 2017., p.34).

    Isso nos levaria de volta ao movimento renovador da EF brasileira e a necessidade ainda premente ♣ de justificar betesporte afiliado contribuição quanto à função social da educação/esporte e de propor alternativas e possibilidades de superar a lógica ♣ da reprodução social.

    Como o professor de EF pode favorecer o surgimento de "emergências"? Que ações didático-metodológicas devem empreender para favorecer ♣ esse surgimento? A forma didática aplicada e desenvolvida para os JEC's retoma a historicidade dessas práticas corporais e retomam seu ♣ contexto cultural (sua afinidade com o imaginário bélico, de invasão territorial, por exemplo).

    Revelam a configuração do jogo (seus contornos, regras, ♣ princípios operacionais, etc.

    ) e abrem as bases para a betesporte afiliado reconfiguração.

    O potencial pedagógico do esporte se encontra, ao contrário do ♣ que se imagina, não na orientação direta (normativa) da socialização.

    O seu verdadeiro potencial pedagógico se encontra na betesporte afiliado apresentação aos ♣ iniciantes, quando o responsável por configurar betesporte afiliado unidade didática e a tematização de determinado esporte consegue esticar e tensionar os ♣ conteúdos sociais "no campo".

    Em outras práticas corporais, esse procedimento é mais visível.

    Alguns gestos técnicos da capoeira, ou das danças populares ♣ podem ser estigmatizados devido a questões religiosas, por exemplo.

    É nesse momento - e só na intervenção - que aparece a ♣ corporeidade que é construída socialmente e velada; que direciona os costumes e age como se não existisse.

    A intervenção direta sobre ♣ o corpo retoma a corporeidade existente e à lança em direção ao não-existente.

    Neste movimento, revela o que existe.

    Mas entendemos que ♣ é preciso explicar esse mecanismo e, ao mesmo tempo, efetivá-lo.

    3 SOCIOLOGIA DO ESPORTE, PROCESSO CIVILIZADOR E CORPOREIDADE

    São conhecidas no âmbito ♣ das Ciências do Esporte as abordagens que aproximam o esporte moderno e o processo civilizador; nomes que se destacam, nesse ♣ sentido, são Eric Dunning e Norbert Elias: "[...

    ] podem as pessoas se congratular quando elas são as beneficiárias ocasionais de ♣ um processo 'às cegas' de longo prazo para o qual elas não contribuíram pessoalmente?" (DUNNING, 2011DUNNING, Eric.

    "Figurando" o esporte moderno: ♣ algumas reflexões sobre esporte, violência e civilização com referência especial ao futebol.

    Revista de Ciências Sociais, v.42, n.1, p.11-26, jan./jun.2011., p.14).

    Nesse ♣ momento, tempo-espaço são escassos para a exposição de tal teoria.

    Mas o que devemos de pronto salientar para clarificar nossa ideia ♣ é que os esportes também tomam parte no processo civilizador.

    Disputas contidas no limite da consciência e que não ganham a ♣ dimensão das ações concretas são disputas parecidas a que encontramos nos JEC's.Dunning (2011, p.

    15) mostra como dois jogos familiares se ♣ separaram em dois esportes, justamente nesta disputa por status: "[...

    ] as disputas por status deste tipo tiveram importância fundamental na ♣ separação entre o futebol e o rugby como formas de futebol".

    Dunning (2011) mostra a importância do esporte no processo civilizador ♣ - que tem evidências empíricas retratadas na obra de Elias - e como se desdobra em estágios que devem ser ♣ elucidados porque explicam a formação da sociedade civil como um processo social "não-intencional (cego)" e que, portanto, não deve ter ♣ continuidade ad infinitum.

    A figuração, que Elias entende ser o complexo código comportamental adquirido nesses processos sociais, é o conceito que ♣ permite inferir sobre a relação esporte-cultura.

    Como o esporte se torna fundamental no processo civilizador? Como que esse produto do processo ♣ acaba por escondê-lo? O processo civilizador se mostra na mudança de hábitos: a) elaboração (refinamento) dos padrões sociais; b) pressão ♣ social crescente pelo auto-controle mais rigoroso e contínuo do comportamento; c) mudança do equilíbrio da censura externa e auto-censura em ♣ favor da auto-censura; d) fortalecimento do "habitus", consciência e superego como reguladores do comportamento.

    Os padrões sociais vão sendo internalizados, operados ♣ abaixo do controle consciente.

    O processo civilizador também é importante na formação do Estado-Nação: a) formação do Estado; b) pacificação sob ♣ o controle do Estado; c) crescente diferenciação social e extensão da cadeia de interdependência (de poder); d) crescente igualdade de ♣ oportunidades entre indivíduos de diferentes estratos sociais; e) riqueza crescente.

    Sendo assim, as disputas vão passando a se dar com a ♣ sublimação da violência.

    O desvio pulsional encontra uma nova casa, os esportes: beligerância e agressividade encontram um espaço socialmente tolerante em ♣ competições esportivas.

    Viver esse impulso parado, ouvindo e vendo é um traço importante desse processo civilizador.

    Esporte vai se tornando cada vez ♣ menos similar aos combates de guerra, uma característica encontrada nos jogos que o precedem.

    Por betesporte afiliado vez, estes jogos chegaram a ♣ ser proibidos por ameaçarem a ordem social e prejudicar a força de guerra.

    Dunning (2011DUNNING, Eric.

    "Figurando" o esporte moderno: algumas reflexões ♣ sobre esporte, violência e civilização com referência especial ao futebol.

    Revista de Ciências Sociais, v.42, n.1, p.11-26, jan./jun.2011.

    ) argumenta que os ♣ costumes são mais fortes que a lei e esses jogos (formas populares de futebol) continuam até serem marginalizados no séc.XIX.

    Até ♣ que escolas e universidades (na Inglaterra) começam a fabricar uma forma moderna de futebol, por enfrentar um problema disciplinar, o ♣ fagging (o autor vê semelhanças com o bullying).

    Rugby foi a escola onde o sistema prefect-fagging foi reformado, reduzindo o poder ♣ arbitrário dos mais velhos sobre os mais novos.

    O processo de surgimento das primeiras regras oficiais do futebol se deu na ♣ rivalidade entre Rugby e Eton que cunharam suas próprias formas de jogar football muito em função de se distinguir, na ♣ busca por status.

    Por fim, os etonianos banem o toque com a mão do jogo em uma tentativa de elevá-lo ao ♣ "auto-controle de elevado naipe".

    Eles acabam sendo os mais influentes na forma do futebol como conhecemos hoje.

    Se em um primeiro momento ♣ o corpo aparece como manifestação alegórica da cultura (em seus traços mais bárbaros) - nesse sentido, ele é sintoma, contracultura ♣ -, isso revela para o Estado moderno o potencial de controle que nele se inscreve, que o torna elemento central ♣ do processo civilizador.

    Cabe, portanto, trazer à tona aquele potencial configurativo.

    Nesse sentido, uma das perguntas principais que vêm norteando estudos no ♣ campo da EF é sobre como é possível fundamentar teoricamente a relação entre corpo-conhecimento.

    Uma discussão mais apressada corre o risco ♣ de reificar isso que se chama de significados das práticas corporais.

    Garganta (1998GARGANTA, Júlio Manuel.

    O Ensino dos Jogos Desportivos Colectivos.

    Perspectivas e ♣ Tendências.Movimento, v.4, n.8, p.19-27, 1998.

    ) e depois Daolio (2002DAOLIO, Jocimar.

    Jogos esportivos coletivos: Dos princípios operacionais aos gestos técnicos- Modelo pendular ♣ a partir das idéias de Claude Bayer.

    Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.10, n.4, p.99-104, out.2002.

    ) exploram justamente a ideia ♣ de "técnicas do corpo", de Marcel Mauss, que consiste em conceber o corpo como o primeiro instrumento do homem: "as ♣ diferentes formas de utilização do corpo que permitem lidar eficazmente com os constrangimentos impostos pelas características das respectivas modalidades desportivas" ♣ (GARGANTA, 1998GARGANTA, Júlio Manuel.

    O Ensino dos Jogos Desportivos Colectivos.

    Perspectivas e Tendências.Movimento, v.4, n.8, p.19-27, 1998., p.22).

    O autor entende que é ♣ o processo de padronização (que torna a técnica reproduzível) que constitui a técnica como uma forte componente cultural.

    Para além da ♣ eficiência da ação, é um controle do resultado dessa ação.

    Esses autores comparam as técnicas corporais com as demais técnicas da ♣ humanidade (de cozimento, plantio, etc).

    Esses procedimentos vão ganhando tradicionalidade por atender a determinadas sociedades localizadas no tempo histórico.

    O grande problema ♣ é a reificação e naturalização dessas técnicas.

    A PE avança até o entendimento de que os contextos culturais vão receber o ♣ arcabouço de gestos esportivos a partir de suas possibilidades de interpretação, seus significados.

    Mas essa propriedade linguística do corpo careceria de ♣ uma fundamentação.

    Procurando entender a possibilidade de uma crítica corporal do político - é preciso já aqui destacar a diferença entre ♣ a fundamentar o corpo como produtor de linguagem e os processos de disputa que interrompem aquela construção social do corpo ♣ -, Gambarotta (2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016.

    ) busca na obra de Bourdieu discutir ♣ a materialidade do corpo na cultura.

    Neste registro, o corpo é instância privilegiada da reprodução da dominação porque escondido na invisibilidade ♣ e percebido como natural.

    Foca, portanto, na investigação dos modos de produção do corpo, rejeitando pensá-lo como uma substância: configura-se também ♣ aqui uma abordagem materialista da corporeidade.

    Aborda o corporal como uma trama de relações, uma constelação.

    O corpo seria, portanto, um emaranhado ♣ implicado com o tecido social e a questão que se faz o autor, e isso é o que mais nos ♣ interessa por ir ao encontro do que estamos problematizando nesse momento, é sobre a possibilidade de se dar conta desses ♣ dois planos em relação.

    Para testar essa teoria materialista do corpo em Bourdieu, cuja principal tese é a de que "[...

    ] ♣ la perspectiva centrada en el uso (y sus reglas) permite elaborar una concepción de lo corporal que, rechazando radicalmente toda ♣ instancia sustancialista, busca dar cuenta de la lógica de su producción" (GAMBAROTTA, 2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos ♣ Aires: Prometeo Libros, 2016., p.

    89), o autor problematiza as concepções pós-estruturalista de Judith Butler e a que chama também de ♣ culturalista, apontando como principais representantes desta David Le Breton e Thomas Csordas.

    Busca ainda a ambiguidade entre as duas concepções depois ♣ de identificar suas aporias e o caráter sócio-histórico dessa ambiguidade.

    Da perspectiva culturalista, destaca que tomam como objeto de investigação "[...

    ] ♣ los sentidos que los agentes o grupos los dotan" (GAMBAROTTA, 2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo ♣ Libros, 2016., p.84).

    Ao não indagar pelo processo sócio-histórico objetivo que impacta o princípio de produção de sentido, essa perspectiva encontra ♣ seu primeiro limite.

    Se o foco são os sentidos subjetivos atribuídos ao corpo, esse subjetivismo anula as consequências objetivas desses mesmos ♣ sentidos.

    Esse relativismo que daí resulta impede também de pensar uma crítica corporal, pois impede de pensar a função do corpo ♣ no político, uma vez que, para isso, seria necessária uma instância fora do sentido subjetivo, fixando o olhar na trama ♣ de relações entre os sentidos.

    A perspectiva culturalista ficaria limitada à descrição.

    De outra parte, a crítica que tece à perspectiva pós-estruturalista ♣ de Judith Butler se apoia nos seguintes argumentos: tal teoria até aponta para a produção objetiva dos corpos (corpos que ♣ importam versus corpos abjetos), mas falha quando obtura a captação da gênese e do caducar na história dessa lógica estrutural.

    Esta ♣ teoria até capta a contingência e o caráter não-natural de uma articulação particular.

    Ou seja, mostra o conteúdo da dominação, o ♣ produzido, como algo que não é fixo dentro das fronteiras hegemônicas e normativas.Mas "[...

    ] la estructura objetiva escapa a tal ♣ contingencia, ella sí se encuentra fija, constituyendo la instancia última de la cual no se indaga su principio de producción" ♣ (GAMBAROTTA, 2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016., p.85).

    Se não se questiona as condições de ♣ possibilidade de tal estrutura, a "materialização" do corpo permanece uma lógica incondicionada.

    O pós-estruturalismo também ignoraria o mecanismo de dotação de ♣ sentido subjetivo, subjugando-o como uma parte da estrutura.

    O corpo acaba aparecendo aqui como um epifenômeno da estrutura.

    Como dissemos anteriormente, Gambarotta ♣ (2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016.

    ) recorre à sociologia de Bourdieu para tentar dar ♣ um encaminhamento ao problema da substancialização do corpo.

    Busca a produção prática do corporal que tem lugar no movimento entre o ♣ subjetivo e o objetivo sem anular nenhum dos dois.

    O autor sugere a mudança de foco para a técnica que se ♣ põe em uso em um modo de corporeidade, o que não deixa de ser um ponto médio.

    Usa como exemplo a ♣ estigmatização dos modos camponeses que acabam produzindo o camponês:[...

    ] No hay un cuerpo campesino - más aun no hay "campesino" ♣ propiamente dicho - anterior a su producción a través de una clasificación social que es también un enclasamiento, por el ♣ cual una determinada posición - producto de la historia del espacio social - es percibida (y autopercibida) socialmente como campesina ♣ (GAMBAROTTA, 2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016., p.87).

    Como se produz um corpo através de ♣ um uso específico? É com essa pergunta que fica este autor.

    Entre os usos regrados e as regras usadas, a única ♣ coisa que permitiria romper com a divisão entre o que é humano (legítimo) e o animal (ilegítimo) é justamente o ♣ foco no uso; contra a naturalização do "natural" no ser humano que garante a dominação simbólica.

    A crítica corporal a que ♣ se refere este autor assim é clarificada:[...

    ] una subversión simbólica (que no es 'ideal' o 'material' sino propia de ese ♣ 'tercer orden') capaz de agrietar y arruinar las reglas usadas, abriendo así el cerrado ámbito de los usos (im)pensables-(im)posibles instaurado ♣ por esas reglas del modo de corporalidad establecido.

    Una subversión que pasa, entonces, por técnicas corporales que estén de otro modo ♣ en las relaciones de dominación, es decir, que sean técnicas otras, o con funcionalidades otras a la de su reproducción ♣ (GAMBAROTTA, 2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016., p.95).

    Uma corporeidade que irrompa a constelação propriamente ♣ moderna entre o eu mesmo cultivado e o animal natural, a qual relegou às emoções e sensações ao controle da ♣ cultura.

    É justamente na morte histórica do contingente, em betesporte afiliado diluição, que ele deveria ser reintroduzido na história, na ação e ♣ no político.

    Gambarotta (2016GAMBAROTTA, Emiliano.

    Bourdieu y lo político.

    Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Prometeo Libros, 2016., p.

    96) conclui: "El carácter disruptivo de ♣ un uso corporal sólo es tal sobre el trasfondo del modo de corporalidad establecido, a partir de cómo está en ♣ él".

    O risco do isolamento "do corpo" e resolução conceitual do problema que este representa expõe diretamente o risco da substancialização.

    4 ♣ CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Por que dissemos então que aquelas inovações metodológicas resolvem a questão da função social da EF/reprodução social? Porque permitem ♣ resetar o processo civilizador no esporte porque intervêm diretamente no substrato da civilização, o corpo.

    E como exatamente as propostas em ♣ PE fazem isso?

    - Retomam o sentido do jogo e, assim, contribuem para mudar o sentido do jogo;

    - O princípio do ♣ "transfert" mostra o enraizamento dos JEC's na trama social; os temas de jogo são análogos a questões constitutivas da sociedade.

    Outrossim, ♣ a organização do esporte em volta da sobrepujança e da especialização (como se isso fosse indício de evolução da espécie ♣ humana) é arbitrária.

    As questões que balizam o contrato social sempre devem ser enfrentadas pelas novas gerações.

    A eficiência, nesse sentido, é ♣ uma farsa;

    - Permitem testar a eficácia de outras formas corporais.

    Nesse processo, esbarram nas estruturas de compreensão do tempo-espaço, nos limites ♣ da "caverna".

    Essas inovações metodológicas favorecem a equivalência das formas eficazes.

    O modelo de fragmentação da tarefa e condicionamento do meio cede ♣ espaço diretamente à necessidade de tomada de decisão.

    No entanto, é preciso ressaltar que a PE foca apenas no fato de ♣ que a técnica (o modo de fazer) só é acionada em um contexto, ancorada a uma razão de fazer.

    A PE ♣ procura fazer o seu trabalho, que é controlar o contexto - "cadeia acontecimental" (GARGANTA, 1998GARGANTA, Júlio Manuel.

    O Ensino dos Jogos ♣ Desportivos Colectivos.

    Perspectivas e Tendências.Movimento, v.4, n.8, p.19-27, 1998., p.

    23) - mas os sentidos que compõe esse contexto extrapolam o jogo.

    Os ♣ estudos pedagógicos da EF chegaram ao entendimento de que a aula é um "fato social" (FENSTERSEIFER, 2009FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo.

    Epistemologia e ♣ prática pedagógica.

    Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v.30, n.3, p.203-214, maio 2009.).

    Um acontecimento onde a sociedade entra na escola e ♣ interage ante a intervenção que toma lugar no tempo-espaço aula de EF; nesse sentido se a desigualdade existe na sociedade, ♣ ela também "vem jogar" nas aulas de EF.

    A PE deveria incorporar também a ideia do jogo como fato social.

    Se há ♣ que fundamentar a "lógica externa" e a betesporte afiliado participação no jogo (REVERDITO; SCAGLIA, 2009REVERDITO, Riller Silva; SCAGLIA, Alcides José.

    Pedagogia do ♣ Esporte: jogos coletivos de invasão.

    São Paulo: Phorte, 2009.

    ), que se olhe mais diretamente para o caráter sócio-histórico das práticas.

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